terça-feira, 3 de abril de 2018

Defesa da democracia reúne esquerda no Rio de Janeiro


Partidos de esquerda, artistas, intelectuais e movimentos sociais estiveram juntos, na noite desta segunda (2), no Rio de Janeiro, em ato em defesa da democracia, contra o fascismo e por justiça para Marielle Franco e Anderson Gomes. No palco, as presenças do ex-presidente Lula, da pré-candidata à Presidência pelo PCdoB Manuela D’Ávila e do deputado estadual do PSOL Marcelo Freixo eram símbolo do tema central dos discursos: a importância da unidade na luta contra os retrocessos e a barbárie.

Na sua última fala programada para antes do julgamento do seu habeas corpus pelo Supremo Tribunal Federal, o ex-presidente Lula reiterou que é vítima de uma mentira. "Eu não estou aqui pelo direito de ser candidato. O que eu quero é que eles parem de mentir a meu respeito, devolvam a minha inocência. Eu quero é que eles votem o mérito do meu processo. Não estou acima da lei, tenho que ser tratado como qualquer cidadão. Quero é que digam a verdade a meu respeito", afirmou a um Circo Voador lotado.

O ex-presidente centrou fogo contra a mídia hegemônica - em especial a Globo -, que associou à escalada da intolerância no país. “A sociedade brasileira foi anestesiada e foi vítima de um processo de mentiras, em cada página de jornal e revista, no rádio e televisão. A sociedade foi sendo tomada por um ódio, uma coisa que não deixava ela pensar (...) Se a Globo tivesse falado da Marielle, em vida, metade do que falou em morte, talvez ela ainda estivesse aqui”, disse.

Lula defendeu a regulação dos meios de comunicação brasileiros e lembrou que a elite do país sempre resistiu a aceitar os avanços e citou como exemplo o fato de que o país foi o último a abolir a escravidão. “O atraso a que o Brasil foi submetido era um atraso premeditado”, disse.

A tônica do discurso do petista, contudo, foi a defesa da democracia. Segundo Lula, esta é uma luta sem fim. “Eu gosto da democracia porque, em 1985 eu dei entrevista para a Folha dizendo que não acreditava que um trabalhador chegasse ao poder pelo voto. Mas em 2002 o povo brasileiro teve a coragem de escolher o nome de um torneiro mecânico para governar o país. Foi um gesto revolucionário”, declarou.

Segundo ele, sua batalha, atualmente, não é só pelo direito de lançar-se candidato, mas é pelo direito de as instituições respeitarem a individualidade das pessoas e também as outras instituições. “Não aceitei a ditadura militar e não vou aceitar a ditadura do Ministério Público e a ditadura de Moro”, discursou.

No evento, Lula saudou as pré-candidaturas de Manuela D’Ávila e Guilherme Boulos à Presidência do país. “Ter Manu e Boulos como candidatos é um luxo. É um luxo para esse país ter tanta gente jovem querendo concorrer”. O ex-presidente estimulou ambos a disputarem: “Tentem. A democracia só vai se consolidando quando a gente aprende a conviver democraticamente na diversidade. Cada um faça o que quiser sem interferir na liberdade do outro”, colocou, pregando que é preciso ter coragem para ir à rua, protestar, propor e construir uma saída para a atual crise.

Lula enalteceu o gesto de unidade dos partidos. Estavam presentes ainda representantes do PSB, do PDT e do PCO. “Espero que seja o primeiro de uma dezena de atos para consolidarmos a democracia. A luta não é fácil”, disse, lembrando a campanha pelas Diretas Já, que não conseguiu aprovar as eleições diretas na ocasião, mas teve grande importância para a restauração da democracia mais adiante.

O ex-presidente ressaltou ainda as eleições para o Legislativo. “Fui eleito em 2002, mas só tive 90 deputados de 513. Na hora de votar para governador, pense nos deputados. Quando for votar para presidente, pense nos parlamentares, senão você fica nas mãos de um Eduardo Cunha”, alertou.

De acordo com ele, muitas vezes, as esquerdas menosprezaram seus adversários. O petista destacou a participação de multinacionais no desenlace do impeachment. “Nenhum presidente eleito com 99% dos votos teria coragem de fazer o que Temer fez, destruindo os direitos dos trabalhadores. O que está acontecendo no Brasil tem o dedo das multinacionais de petróleo que não aceitam a Petrobras ter descoberto a maior jazida de petróleo. O que eles não querem é a soberania do Brasil”, disparou.

Lula falou ainda das ideias de Marielle e fez um paralelo com sua própria situação. “Eles acham que matando a carne eles acabam com a pessoa, mas eles não acabam com o sonho e as ideias da pessoa. Querem prender o Lula? Não vão prender meus pensamentos. Não vão prender meus sonhos".

Foto: Mídia Ninja

Manuela D’Ávila, que participou de todo o evento ladeada por Lula e por Chico Buarque, começou sua fala lembrando que abril é o mês da execução de Tiradentes, que morreu lutando pela independência. Segundo ela, no Brasil só há dois partidos, o de Tiradentes e o de Joaquim Silvério dos Reis, e a esquerda unida no ato venceu suas diferenças porque está ao lado da liberdade.

“Lutar contra o fascismo hoje, em 2018, é lutar pela liberdade de escolha. Nós aqui escolhemos uma presidente e vivemos sob o golpe porque nossa liberdade de escolha não foi respeitada. (...) O que nos une é a luta pela liberdade de nosso país ser um grande país e de nosso povo ser o que ele quiser. Temos a missão de dizer que a luta democrática passa pelo direito de Lula concorrer. Essa é uma disputa pela liberdade e pela democracia também. (...) Machistas, racistas, fascistas, vendilhões da pátria não passarão”, afirmou.

Marcelo Freixo foi na mesma linha e defendeu que o tema da democracia está acima de qualquer diferença entre as forças de esquerda. “Claro que temos diferenças e elas são importantes. Todos nós precisamos de autocrítica. Todos sabemos que essas diferenças não devem ser escondidas, mas debatidas olho no olho. E é importante dizer que vamos conversar com franqueza, sem esconder os erros que cometemos. Mas sabemos que nossas diferenças são menores que a luta de classes. São menores que a pauta que está nas ruas”, pregou.

Ao falar sobre a morte de Marielle, Freixo lamentou que, no Brasil de hoje, uma tragédia substitua a outra. “Mas não seremos vencidos nem pelo medo nem pelo ódio. A morte da Marielle ultrapassou qualquer fronteira. Não é aceitável, tem uma fronteira que nos separa da barbárie. A gente não vai sossegar enquanto não descobrirmos quem fez. Não é vingança, porque não nos igualamos a eles. Eles serão derrotados nas urnas e nas ruas. Esse front dos direitos humanos está no olho de cada mãe que transforma luto em luta”, discursou, defendendo que o direito de Lula concorrer também é uma luta pela democracia.

Emocionada, Mônica Benício, viúva de Marielle, afirmou que o assassinato de sua companheiro “é só mais um ataque a democracia que estamos vivendo”.

 Do Portal Vermelho

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