segunda-feira, 24 de julho de 2017

A FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA NO COMBATE AO BULLYING E AO RACISMO





Por Dedé Rodrigues

Eu participei da última Oficina oferecida pelo projeto pioneiro da UFPE no Meu Quintal em Tabira no dia 21 de julho de 2017,  em parceria com o Governo Sebastião Dias, na Escola José Odano de Góes Pires, ministrada pelos universitários Raisa Almeida e Rogério Oliveira com o tema Violência Escolar: Desconstrução do Bullying e do Racismo. Os debates em torno desses dois fenômenos  sociais me inspiraram a escrever essa matéria no intuito de contribuir com a sensibilização dos atores envolvidos para a desconstrução dessas duas violências ainda presentes na   escola e na sociedade brasileira.  Leia mais abaixo e veja mais fotos dos participantes.



Uma questão importante foi levantada na oficina sobre as consequências do bullying. Ou seja,  quem sofre com as agressões físicas ou verbais é só a vítima? Normalmente a gente atribui a vítima o único sofrimento de uma agressão, mas se investigarmos a história do agressor é possível a gente descobrir que ele também sofre ou tem um histórico de violência familiar que o leva a agredir. Evidente que isso não impede a escola ou as vítimas de usarem a legislação ou as leis de proteção contra o agressor. Isso não redime o agressor ou impede a sua punição, embora possa contar como atenuante da sua pena. 


 Outra questão não menos relevante que a anterior é tentar responder a seguinte questão: com desconstruir o bullying e o racismo na escola? A desconstrução deve começar com o nosso policiamento, ou seja, precisamos fazer uma autoavaliação sobre a porcentagem de preconceito e racismo que cada um de nós traz dentro si. Como assim? Somos todos preconceituosos e racistas?  Sim, talvez essa seja a constatação mais difícil de detectarmos, pois poucas pessoas admitem carregar dentro de si uma porcentagem histórica de racismo e de preconceito,  por  menor que ela seja. Talvez por isso tenhamos mais dificuldades em combatê-la, haja vista que só corrigimos um erro quando o identificamos.    


Nesse sentido cabe a gente questionar: até que ponto a escola está cumprindo com a sua função social?  Se essa instituição quiser avançar na função social precisa tentar substituir, na medida do possível,  a punição pela persuasão ou recuperação do educando agressor. É preciso ouvir também o agressor, estudá-lo, conhecer a sua história familiar e estabelecer relação entre a história familiar com a história política\econômica\ social do país. Quando ampliamos a compreensão da parte sobre o todo, de forma dialética, passamos a ter um novo olhar sobre o fenômeno da violência escolar que envolve os indivíduos, que são parte de um modelo de sociedade.   
    

Quando ampliamos a nossa visão histórica sobre o preconceito, aliado ao bullying e ao  racismo percebemos que todos somos vítimas, especialmente os pobres, os negros, os índios e as mulheres de um modo de  produção colonial, capitalista e predatório que desenvolveu a ideia de seres civilizados e não civilizados, o branco e o índio e,  posteriormente,  a teoria do Darwinismo Social  para justificar que haveria seres superiores, o branco europeu  e os seres inferiores para serem escravizados, os negros, alimentando posteriormente a ideia de uma raça superior com o regime nazista, que levou ao extermínio de milhões de judeus, comunistas, democratas, religiosos, pessoas com necessidades especiais, idosos etc. Com o processo de desenvolvimento desse modelo de sociedade capitalista,  irracional e concentrador de renda,  multiplicou-se   a miséria e a pobreza, mantendo-se  o machismo,  proveniente do tratamento desigual sobre a mulher que vem desde a Idade Média, entre outras formas de preconceito.


Mesmo vivendo nesse modelo de sociedade capitalista não podemos resumir o combate ao racismo e as outras formas de preconceito na escola e na sociedade às nossas ações positivas, individuais, por mais importantes que elas sejam. Cabe aqui um registro sobre a importância das políticas afirmativas dos governos Lula e Dilma. O Estatuto da Igualdade Racial, a Política de Cotas nas Universidades, o apoio aos quilombolas, a Lei Maria da Penha, o ECA, a criação do Conselho Tutelar, o apoio a Polícia Federal e ao Ministério Público, a democratização da instituição escolar, eleições para gestores, Conselho Escolar e o apoio aos Grêmios Estudantis como importantes parceiros no combate a toda forma de preconceito na escola e na sociedade, no geral, decorrentes desses avanços democráticos.

 A construção de uma sociedade justa e democrática no Brasil passa hoje  pelo restabelecimento da democracia,  com eleições diretas para presidente, a manutenção das conquistas sociais e um novo projeto de desenvolvimento,  com crescimento econômico, geração de emprego e distribuição de renda. O governo de Michel Temer, que tomou o poder mediante um golpe,  está destruindo,  com as suas reformas,  tudo o que conquistamos no período anterior. Caso contrário, mesmo que cada um de nós faça a sua parte,  se tornará muito mais difícil a desconstrução do Bullying e do racismo na escola e na sociedade brasileira. 







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