segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Rennan Martins: "O cerco e a saída"


O conservadorismo tenta destruir a política econômica e o aprofundamento da democracia defendidos pela presidente e legitimados nas urnas. Dessa vez, a única saída é se apoiar nas massas que a reelegeram.

Por Rennan Martins*


Fernando Zamora
Grupos da ultradireita brasileira em ato realizado no sábado (1º) na avenida Paulista, em São PauloGrupos da ultradireita brasileira em ato realizado no sábado (1º) na avenida Paulista, em São Paulo
E eis que, após ser derrotada uma vez mais nas urnas, as forças do atraso e da subserviência demonstram o que já se suspeitava. Que não possuem apreço algum pela democracia. Sinalizam, volta e meia, que não hesitariam em virar a mesa se preciso for, pra impor sua agenda. O objetivo é claro, esvaziar a pauta do aprofundamento das reformas e da inclusão social.

O setor financeiro iniciou sua ofensiva em torno do Ministério da Fazenda. Diz ele, por meio de sua fiel imprensa, que a pasta precisa de um nome que dê “confiança” aos mercados. A receita? Ajuste fiscal “violento” e arrocho nos juros. Alegam que essas medidas, que estão afundando a Europa, terão resultado diferente aqui, juram que no Brasil isto nos fará retomar o crescimento.

Enquanto traço estas linhas, o noticiário da Globo News disfarça a agenda do rentismo com uma matéria sobre o churrasco do brasileiro que está mais caro. Querem mesmo que acreditemos que a mesma organização que se opõe a todos os avanços trabalhistas se preocupa com o poder de compra do assalariado.

Em concomitante vemos o PSDB pedir uma descabida “auditoria especial” na votação do segundo turno presidencial. O resultado foi previsto pelo Ibope e Datafolha do dia 25, o tucanato sabe que refletem a realidade. O objetivo deste teatro é outro.

O que quer o PSDB é alimentar a militância antipetista. Esta horda que enche de ódio as redes sociais não precisa de informações verídicas e mesmo sendo poucos são muito barulhentos. Somam a capa fraudulenta da Veja com essa “auditoria especial” e o resultado foi visto nesse fim de semana.

No último sábado a família Bolsonaro juntou-se a Lobão e outros correligionários para exigir o impeachment de Dilma e a “restauração da ordem” por meio de uma intervenção militar. Paulo Martins, jornalista do SBT Paraná, discorreu sobre o perigo que o PT representa a liberdade de imprensa. O mais curioso disso tudo é que ele e Lobão destilam o veneno protofascista auxiliados pela verba publicitária desse governo, ao mesmo tempo que apontam seu caráter ditatorial. Ou seja, a “resistência” a “ditadura petista” é largamente financiada pela própria.

O Congresso Nacional também entrou na dança. Derrubou o decreto da participação social clamada pelas ruas e faz de tudo para enterrar a reforma política mais uma vez. Duas bandeiras caras aos que foram às ruas ano passado estão sendo pisoteadas por um congresso fisiológico que se tornará ainda mais retrógrado ano que vem. Como se não bastasse, Eduardo Cunha, representante de tudo que há de mais oligárquico no país, tenta tomar de assalto a presidência da Câmara.

O cerco ao Palácio do Planalto está intensificando. A oposição vê no horizonte político que dificilmente volta ao poder na próxima eleição com tudo o mais constante. A palavra de ordem é, portanto, frear o ímpeto do aprofundamento democrático e empurrar goela abaixo da presidente a receita recessiva derrotada nas urnas.

Nesse momento, Dilma pensa em que concessões deve dar a fim de que os ânimos arrefeçam. Ilusão. A direita e sua imprensa já demonstrou que “não vai dar trégua”, palavras de Aloysio Nunes. Mesmo que faça um governo à Aécio Neves, não haverá conciliação.

Dilma precisa apoiar-se naqueles que a reelegeram a fim de imprimir sua marca. A esquerda, a mesma que a empurrou com todas as forças no fim do segundo turno e que fez o contraponto à visão única da grande mídia, está ávida por politizar ainda mais o debate, por disputar cada centímetro do terreno, nas ruas e redes. Esta é a única maneira de fazer as reformas que tanto precisamos e manter a política econômica.

*Rennan Martins é jornalista, colaborador do Portal Desenvolvimentistas e colunista da Rádio Vermelho

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