sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Qual é a escola que queremos? Como queremos que ela seja construída?


Beatriz Helena de Souza *
 
 

Uma das funções de quem tem filhos, abrangendo quem é responsável pela criação de alguém, é educar. Educar no sentido da convivência com o outro e com a coletividade, o que envolve boas maneiras, respeito e cordialidade; e dar instrução, que envolve a transmissão de conhecimentos desenvolvidos e acumulados ao longo da história da humanidade, nas ciências e nas artes. Falo de escola.


A educação no Brasil, enquanto sistema, tem origem na vinda da Companhia de Jesus, por volta de 1549, visando catequizar os índios. O Colégio Pedro II, criado em 1837, visava preparar os filhos da elite para o Curso Superior, que era realizado no exterior. O ensino seriado, como conhecemos agora, é do início do século 20. De lá pra cá muita água já passou debaixo dessa ponte, mas o que caracteriza os projetos de educação implantados aqui nunca foi a participação popular, falo das diretrizes, das formas, de se pensar no interesse do aluno e da nação.

Ontem estive na escola de um dos meus filhos, uma Escola Estadual em Niterói e é por isso que estou escrevendo sobre educação agora. Eu fui resolver uma questão particular, mas acabei indo parar numa sala de aula lotada de alunos. Eu explico:

"As turmas do terceiro ano estão numa "relação tensa" com a professora de Sociologia. De fato, a tensão é de ambas as partes. Sucintamente, direi que as turmas são bagunceiras e a professora é imensamente grosseira, inclusive com responsáveis. Por esta razão, a impossibilidade de dialogar, fui tratar da questão de uma nota não lançada com a coordenação e direção da escola. Sendo eu responsável por alunos, não posso estar "batendo boca" com um profissional de ensino para que eles assistam. Não se joga gasolina em fogo e bater boca de fato não é método aceitável pra tratar de questões educacionais dentro da escola. Ocorre que uma outra mãe pensou diferente. Foi à direção, mas com o pretexto de ir ao banheiro, subiu até a sala de aula e foi um "barraco", na frente da turma. A professora, que já estava no limite, claro, "surtou". Enfim, a escola foi socorrê-la e eu fui pra sala conversar com a turma."

Então, com a ampla colaboração da turma, fomos conversar sobre o fato de estarem no terceiro ano, ou seja, de terem pela frente, dentro das regras vigentes no momento, sua vida adulta. "É assim que resolvemos nossas questões no dia a dia, agredindo e brigando? Como serão as relações no local de trabalho, como cuidamos das questões da vida: saúde, contas, relacionamentos; perdendo a cabeça sempre que um outro perder?" Passamos uns minutos nessa reflexão e, ao me despedir, antes de agradecer, fiz a eles a seguinte observação: "Por que esta conversa foi possível? Porque vocês escolheram sentar e me escutar. A única pessoa nesta turma que me deve obediência é minha filha, mas vocês tomaram a decisão de me escutar, e isso permitiu que eu falasse. Vocês são quase 40 na sala, eu sou só uma." Agradeci e fui embora.

Essa pergunta vale pra alunos, mas vale pra professores, Mães e responsáveis, coordenação, direção, gestores públicos: É assim que cuidamos da formação, com relações conflituosas, descontroladas? Que escola é essa (?) que temos, em que os professores não podem mais planejar suas aulas, visto que tem de se atender a índices tais e quais, impostos pelo governo, nesse caso falo do RJ. O professor tem de lançar notas no "sistema" e não fugir do curriculum mínimo, por que?? A despeito de eu não simpatizar com a tal professora, em particular, é necessário que eu observe em que condições ela trabalha.

Somos (professores) formados com conhecimentos que não podemos transmitir em sala de aula, porque a estrutura é ruim, mas destaco o formato da escola, que está parado no tempo. 40 alunos numa sala, no RJ (leia-se Hell de Janeiro), para que fiquem calados ouvindo angelicamente um adulto falar sozinho? Oi?35 ou 40 adolescentes que estão vivos, pois não?Seria de estudar na NASA se eles ficassem o tempo todo quietos.... Tá, falta educação em casa também, "alô mães e pais", mas é só isso? Mesmo??

Vou dar somente um exemplo: Temos a história do Brasil espalhada pelos nossos bairros e monumentos, e prédios públicos, assim como a literatura desenvolvida ao longo de nossas ruas (Machado de Assis, Rubem Fonseca, ...), e não podemos passear com eles para estudar de um modo mais interessante. Não há ônibus nas escolas, profissionais disponíveis para os passeios, e os prédios públicos lá, vazios ou pouquíssimo frequentados. Ontem entrei na Biblioteca Nacional, tenho o costume de estudar lá desde a graduação (2006). Sabiam que eles distribuem a revista de História deles lá, basta ir lá!!! Quem deveria estar naquela biblioteca não são nossos alunos??? E quem está olhando?? 

Se não mudamos nosso comportamento, nós povo, com relação à escola, porque queremos que ela melhore? Mágica? Queremos mesmo que ela melhore? Então, mãos à obra!
* Acadêmica de Literatura da Língua Portuguesa

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