quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Rede de Marina concorre por 12 partidos de matizes distintos

 


Marina Silva concorre à presidência pelo PSB de Eduardo Campos, morto em um acidente aéreo no último dia 13, mas já deixou claro que, eleita ou não, só permanecerá na sigla até conseguir o registro partidário para o seu agrupamento político, batizado de Rede Sustentabilidade. 

Por Najla Passos*, na Carta Maior


 Rede de Marina concorre por 12 partidos de matizes distintos Rede de Marina concorre por 12 partidos de matizes distintos
Por definição estatutária, a Rede Sustentabilidade, criada em fevereiro de 2013, é uma associação de cidadãos dispostos a contribuir para superar o monopólio partidário na representação política institucional. No entanto, a forma que escolheu para fazê-lo foi justamente registrar-se como partido político, conforme prezam as regras eleitorais vigentes no país.

A estratégia não deu resultados. Em outubro do ano passado, há três dias do prazo final para a filiação partidária dos candidatos que disputariam as eleições deste ano, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) negou o registro à Rede, que não conseguiu obter o mínimo de assinaturas necessárias. Mas o agrupamento não desistiu de concorrer às eleições deste ano e apresenta 105 candidatos, pulverizados em 12 partidos de todos os espectros ideológicos.

A maior parte deles - um total de 68 - seguiu os passos de Marina Silva e se filiou ao PSB. Mas a falta de coordenação entre o agrupamento levou vários outros a pularem para outras siglas, dos mais diferentes espectros ideológicos. Oito foram para o PPS, seis ficaram no PV e quatro no PEN. O PDT tem três candidatos da Rede e PHS, SDD e PROS, dois cada. Com um candidato, estão PRB, PRP, PTN e PSOL.

No geral, o time de candidatos oferecidos pela Rede é fraco. Muito fraco. Tanto do ponto de vista qualitativo quando do quantitativo. Portanto, incapaz de dar a sustentação necessária para que Marina possa governar sem se render aos tradicionais acordos da velha política que ela tanto critica.

Os melhores quadros estão na disputa pelo Senado, mas, mesmo que sejam todos eles eleitos, o que as pesquisas demonstram impossível, somariam menos de 5% do total de senadores. O deputado federal Reguffe, que concorre pelo PDT, é o melhor posicionado, liderando as pesquisas no Distrito Federal com 31% das intenções de voto, conforme o Ibope divulgou em 30/7.

A vereadora por Maceió Heloísa Helena, que tenta retornar ao Senado pelo PSOL, tem 26% das intenções em Alagoas, perdendo apenas para o ex-presidente Collor de Mello, que possui 43%, conforme pesquisa Ibope divulgada em 15/8.

Os outros dois candidatos do grupo ao Senado são a ex-presidenta do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), Eliana Calmon, que disputa uma vaga pela Bahia, e o procurador federal Aguimar Jesuíno da Silva, por Goiás, ambos pelo PSB. Pesquisa Ibope divulgada em 24/7 mostra a jurista em terceiro na corrida baiana, com 5% das intenções de voto, atrás do ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB), com 34%, e do vice-governador Otto Alencar (PSD), com 17%. Já Aguimar possui apenas 1% das intenções de voto do eleitorado de Goiás, conforme pesquisa Ibope de 15/8.

Concorrendo à Câmara dos Deputados, a Rede tem 37 candidatos que, se forem todos eleitos, somarão ínfimos 7,2% do total. Para agravar, a maioria deles são nomes desconhecidos do eleitorado. Uma exceção é o cantor e compositor Vital Farias, autor do clássico “Ai Que Saudade D'ocê”, que em 2006 concorreu ao Senado pelo PSOL da Paraíba e, em 2010, pelo PCB do mesmo estado, mas não se elegeu em nenhum dos pleitos.

Outro é o deputado federal Miro Teixeira, eleito pelo PDT do Rio de Janeiro, mas que acabou deixando o partido para apostar no Rede Sustentabilidade e, após a derrota no TSE, correu para o recém criado PROS. Difícil prever se, em um partido novo, de pouca expressão, conseguirá viabilizar sua reeleição ao cargo que hoje ocupa.

Mais ausências do que presenças Em todos os níveis, a lista dos candidatos da Rede chama mais a atenção pelas ausências do que pelas presenças, reflexo direto do estilo marinista de tomar decisões sem compartilhá-las com seus pares. E decisões que, muitas vezes, vão de encontro ao que ela mesmo prega. Não consta no rol, por exemplo, o nome do deputado federal Domingos Dutra (SDD-MA), que saiu do PT para apoiar o Rede Sustentabilidade, mas se desencantou com a condução política do agrupamento e acabou se filiando ao SDD. Segundo Dutra, o Maranhão foi o estado que mais colheu assinatura para a criação da Rede, mas ele sequer foi comunicado das negociações que levaram marina ao PSB.

Também não está lá o do deputado federal Alfredo Sirkis, eleito pelo PV do Rio de Janeiro, que deixou o partido para acompanhar Marina no seu Rede Sustentabilidade, e ficou bastante descontente com a decisão dela de se filiar ao PSB. Tão descontente que cometeu, em seu blog, o que classificou como surto de “sincericídio”, quando chegou a compará-la a “líderes populistas”.

“Marina é uma extraordinária líder popular, profundamente dedicada a uma causa da qual compartilhamos e certamente a pessoa no país que melhor projeta o discurso da sustentabilidade, da ética e da justiça socioambiental. Possui, no entanto, limitações, como todos nós. Às vezes falha como operadora política, comete equívocos de avaliação estratégica e tática, cultiva um processo decisório ad hoc e caótico e acaba só conseguindo trabalhar direito com seus incondicionais. Reage mal a críticas e opiniões fortes discordantes e não estabelece alianças estratégicas com seus pares. Tem certas características dos líderes populistas, embora deles se distinga por uma generosidade e uma pureza d’alma que em geral eles não têm”, escreveu à época. Outro nome que poderia compor sua bancada é o do ex-deputado paulista Luciano Zica, um dos raros quadros de expressão nacional que acompanhou Marina na saída do PT para o PV e, depois, deixou o último para apostar na Rede. Acabou rompendo com ela após sua filiação ao PSB para concorrer nas eleições deste ano. "Nossa proposta era a de fazer da política uma nova política. E o PSB não tem métodos menos velhos que os outros partidos", afirmou na ocasião.

O único nome do grupo que disputa um cargo nos Estados é o ilustre desconhecido Junior Brasil, perito em contabilidade e controladoria da Polícia Federal (PF), candidato a vice-governador do Amazonas pelo PSB, na chapa encabeçada pelo deputado estadual de primeiro mandato Marcelo Ramos. A chapa pura do PSB tem 3% da preferência do eleitorado, segunda pesquisa Ibope divulgada no último dia 12. Os candidatos da Rede às assembleias estaduais são 58 e outros quatro disputam uma vaga na Câmara Legislativa do DF.
*Jornalista, mestre em Linguagens, repórter da Carta Maior


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