domingo, 17 de agosto de 2014

Maurício Abdalla: Capitalismo é o reinado dos abutres

 


 A Argentina paga, hoje, o preço de seu passado neoliberal. O Brasil que fique de olho. Exemplo de seguidor obediente do Consenso de Washington, o país vizinho estabilizou a economia seguindo a receita cambial aumentou enormemente a dívida para financiar o Estado com capital especulativo, privatizou os setores estratégicos da economia e assinou acordos em que aceitava a arbitragem internacional. Isso é bem conhecido por nós, desde o Plano Real e o governo FHC.

Por Maurício Abdalla*, na Adital


Reprodução
A Argentina paga, hoje, o preço de seu passado neoliberal. Os "fundos abutres" assolam a economia do país.A Argentina paga, hoje, o preço de seu passado neoliberal. Os "fundos abutres" assolam a economia do país.
 A explosão da dívida levou à moratória de 2001, que evitou que o país quebrasse de vez. O débito foi renegociado com os fundos de investidores em 2005 e 2010 a preços menores do que garantiam os títulos antes de 2001. Os que aderiram ao acordo levaram muito dinheiro. Mesmo não sendo o que esperavam. Ainda lucraram mais do que se houvessem investido seu capital em produção.
 
Outros não aderiram e ou mantiveram seus títulos ou os venderam a preços menores (porém maiores do que os prometidos pelo Estado) para outros investidores. Estes iriam buscar na Justiça (vendável em todo o mundo) o direito de receber a remuneração de seu capital rapinante nos valores previstos pré-moratória de 2001. São os chamados "fundos abutres". Ganharam recentemente decisão favorável de um juiz dos EUA.

Se a Argentina pagar o que determina o juiz para os fundos abutres, terá que pagar o mesmo para aqueles que aceitaram levar um valor menor nas negociações de 2005 e 2010. A quebradeira será maior. Se não pagar, pode ter sequestrado seus recursos depositados em bancos internacionais e sofrer outras medidas. Os donos dos fundos abutres são grandes banqueiros internacionais, grupos de investimento e indivíduos que querem enriquecer não muito, mas no limite máximo possível. Fazem parte do bloco hegemônico mundial, que elegem presidentes, influenciam na escolha de ministros metem-se em disputas eleitorais em países que não são os seus.

Para eles, não importam os problemas sociais e econômicos que seu enriquecimento exorbitante e irracional pode gerar a um país, não se preocupam com o desemprego, empobrecimento e a fome da população, nem com a incapacidade do Estado de prover o mínimo essencial para os que não têm acesso a serviços privados. Querem multiplicar seu dinheiro a todo custo, e mandam a humanidade às favas. Esse é o capitalismo em sua essência mais pura. É o sistema que muitos dizem que "deu certo", o ápice da evolução econômica da humanidade. Certamente, o capitalismo deu certo para os abutres. Mas se estabelecer o reinado definitivo dos abutres é o mais elevado grau da evolução econômica da humanidade, precisamos urgentemente involuir.

*Professor de Filosofia da UFES, autor de "O princípio da cooperação" (Paulus) e "La crisis latente del darwinismo" (Cauac), dentre outros



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