Por Paulo Moreira Leite, na coluna Vamos combinar:
A ultima novidade sobre a Grécia é que a troika externa que
assumiu o controle das finanças do país pretende obrigar a população a
trabalhar um dia a mais na semana – sem aumento de salário, é claro.
Depois de eliminar os empregos, derrubar o consumo, arrasar
as aposentadorias, esvaziar as residências – o número de sem-teto em Atenas
cresceu 25% durante a crise – agora os credores pretendem roubar um dia de
descanso da população.
É indecente.
Pois é este o destino que a União Europeia reserva a
população de um país a quem se prometeu crédito farto e até subsídios
vantajosos na hora em que se queria abrir o mercado grego para as empresas dos
países ricos do Velho Continente.
Quando o cassino financeiro da União Européia cobrou a
conta, os credores fecharam suas torneiras e encontraram políticos dóceis,
dispostos a sufocar seu próprio país em nome da estabilidade econômica e do
respeito aos mercados.
De lá para cá, o que se viu foram dores e sacrifícios sem
utilidade.
O país está em recessão há cinco anos, em patamares cada vez
mais deprimentes. A queda foi de 6,9% negativos em 2011. (Não fazemos ideia do
que é isso. A recessão de 1981, a pior do Brasil, em tempos recentes, foi de 6%
negativos).
Pois em 2012, a Grécia avança para uma recessão ainda pior,
de 7,5%. O custo de vida, que deveria crescer 1,2% por falta de demanda, voltou
a subir e deve chegar a 2,5%. Acabo de ler que o desemprego chegou a 40%. Não
consigo imaginar como é viver num país onde 4 pessoas em 10 estão sem desempregadas.
É pesadelo de filmes futuristas, como Blade Runner…
Mas sempre se pode imaginar que a Grécia estava a caminho de
uma tragédia nacional quando decidiu submeter seu destino aos interesses dos
mercados externos, colocando o pagamento dos credores – daí o apego ao euro –
acima dos interesses da população. O resultado é essa crueldade. Alguém acha
que poderia ser diferente?
O grave é que a maioria dos governos europeus pretende
submeter os povos mais frágeis a um regime de sacrifício maior, capaz de
extrair o que parece ser a última gota. Depois da Grécia, a Espanha, Portugal e
a Italia encontram-se no mesmo caminho. A França de François Hollande,
recém-eleito pelo Partido Socialista, deve fechar -0,1% no próximo trimestre.
Apesar do tom de perplexidade de muitos observadores e
comentaristas, convém reparar que nem todos perdem tudo nesta situação. O
rebaixamento dos salários, a insegurança no emprego, o fim de garantias
históricas representam uma tragédia sem fim para milhares de famílias e as gerações
futuras. Mas também abre oportunidades de negócio animadoras para quem aposta
no rebaixamento da humanidade. O nome do processo é “Destruição Criadora” e é
ensinado em várias escolas de economia. Não vamos nos enganar. É esta a aposta
que aprofunda crise européia e promove, em público, o assassinato do país mais
fraco.
Postado por Miro às 16:07
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